A palavra desenho é descrita nos dicionários como a representação da forma e não da cor dos objetos. É a representação de pensamentos por meio de linhas ou figuras. Assim, quando falamos de desenho na aprendizagem, devemos nos lembrar de que ele precede quase tudo que nos rodeia, e todas as profissões em si. Desta forma, o caminho mais indicado na prática de qualquer desenho em meio às interferências externas se dará na maneira de conduzir, ou melhor, sem restringir a ação e iniciativa do estudante.
Portanto, o desenho encontra resposta favorável no ato de o adulto se unir à criança ou ao jovem, participando, revelando amizade e solidariedade — que é a melhor forma de se criar um ambiente onde eles se sintam seguros e prestigiados. É necessário não perder de vista que o desenho do estudante revela suas virtudes não apenas pelas suas qualidades estéticas, mas, sobretudo, pelo que representa de ideias, pensamentos e emoções (Itajahy Martins, p.27).
Vamos agora conhecer uma ideia significativa do desenho colocada por Mario de Andrade em 1937. Ele colecionou desenhos de crianças, jovens e iniciantes. Observava a riqueza expressiva e criativa que havia na essência destes desenhos. Pode notar que os estudantes esforçavam-se para chegar dentro das normas gerais do desenho, da técnica, até a inventar sua técnica particular. Assim, ele afirmou que para os novos tempos, cada um pode encontrar sua maneira pessoal. (Catálogo Mario de Andrade e a Criança, MAC/USP- Instituto de Estudos Brasileiros/USP-1988).
Por fim, lançaremos considerações da pesquisadora na Universidade Estadual de Santa Catarina UDESC, Maria Lúcia Batezat Duarte em seu livro Desenho infantil e seu ensino a crianças cegas, Razões e Método abre em nova aba, 2011:
Por que ensinar desenho a crianças cegas?
Porque o desenho oferece uma oportunidade de síntese, simultaneidade e totalização da forma dos objetos (de suas propriedades formais) e, por isso, torna-se relevante como recurso cognitivo;
Porque o ato de desenhar e o desenho produzido, na medida de seu caráter generalista e simbólico, integram possibilidades de comunicação cuja utilidade pode transcender a língua falada e escrita;
Porque as pesquisas indicam que, para as pessoas cegas, desenhar é uma preliminar necessária à leitura de imagens em relevo, seja qual for a sua natureza: didática, informacional, comunicacional ou artística. Inclui-se aqui a forte tendência para o uso de símbolos e signos gráficos nas mensagens digitais;
Porque todo o esforço em pesquisas e produção de equipamentos para a impressão de imagens visuais em relevo destinadas ao público invisual seria inútil sem o aprendizado do desenho. Pois a identificação dos objetos em sinais gráficos perceptíveis pelo tato está condicionada à prática contínua, ou melhor, a construção de um código tátil-visual. Desta forma, os estudantes cegos desde o nascimento (ou baixa visão) poderão compreender o processo de planificação e representação de objetos tridimensionais de modo bidimensional (Lúcia Batezat Duarte, p.192).
Depois desse breve histórico sobre o desenho para crianças cegas, vamos ver algumas estratégias?
Esta maneira de desenhar será percebida pelo tato na frente e no verso do papel.
Materiais
- Caneta esferográfica ou lápis com ponta grossa;
- Prancha telada ou pedaço de tela de mosquito, camiseta, pano de prato, pano de saco, juta, tecido de algodão, EVA, feltro, entretela, entre outros;
- Papel: Folha de caderno, sulfite branco ou até papel de rascunho;
- Um apoio horizontal. Pode ser uma prancheta de mão, uma mesa, um pedaço de papelão ou um compensado de madeira.
Modo de fazer
- Prenda na mesa ou no apoio que encontrou o pedaço de tecido, tela de mosquito ou outro o material (mais ou menos 35 cm x 25 cm) com a fita adesiva ou pesinhos. Deixar bem esticado;
- Neste espaço coloque a folha sobre a tela ou o tecido
- Para iniciantes vale prender também a folha de papel com fita adesiva ou tachinhas
- Com a caneta ou o lápis, bem em pé (vertical), riscar um círculo e uma linha na folha para teste. Perceba neste teste qual a força (pressão) a ser usada para que não fure o papel;
- Vire a folha e confira o resultado. Deverá ter formado uma linha em alto relevo;
Obs.: Os materiais que ficarão embaixo do papel devem ser criativamente experimentados e devem atender às características de cada estudante.
É sempre bom relembrar que o conhecimento do desenho se faz pelo exercício constante, brincalhão e divertido com as linhas e formas e seus arranjos. Exercite linhas curvas, retas, zig-zag, ondas, espirais, formas circulares, ovais, triangulares, quadradas, de estrelas, entre outras. Assim, pouco a pouco essas linhas e formas conquistadas poderão se combinar e trazer representações e a expressão de ideias.
Agora divirtam-se!
2 Comentários
Eliana – 20 de julho de 2020
Adorei a contribuição, pois é um tema q poucos se dedicam a mostrar sua importância para a aprendizagem e o desenvolvimento da criança com deficiência visual. Abre um debate interessante e necessário e uma perspectiva na psicologia cognitivista da cegueira.
CRISTIANE – 27 de julho de 2022
Ótimas dicas. Obrigada.